Há 30 anos, eu não sabia o significado da expressão. Então, obrigada a você que me apresentou ao bullying num tempo em que esse termo nem existia.
E “zoou”, incansável e diariamente, com aquela garotinha tímida e insegura.
Obrigada a você por reparar na minha magreza, nos meus óculos e nos meus dentes tortos.
Evidenciar os meus defeitos e diminuir as minhas qualidades.
Obrigada por me excluir das conversas e me incluir nas fofocas.
Obrigada por me tratar bem em alguns dias (quando precisava da minha ajuda) e depois falar mal de mim pelas costas.
Obrigada por caçoar dos meus sonhos.
Obrigada pelo
“Você nunca vai se casar, você é muito feia (magra, esquisita, etc)
“Você nunca vai conseguir escrever
“Você sonha demais
O tempo passa…
Como eu sou hoje? Quem eu sou hoje? Não importa.
O que importa é que eu compreendi.
Então, obrigada por me diminuir.
Porque só assim eu descobri o quanto sou valiosa.
Porque hoje eu sei que fazia isso para se “firmar”,
Para não olhar pro seu próprio corpo, seus dentes, seu rosto, seus sonhos.
Para não enxergar a vida que você tinha – ou não tinha.
Para não admitir, nem a si mesmo, que era tão inseguro quanto eu.
Para não admitir, nem a si mesmo, que era tão sonhador quanto eu.
Ainda bem que a gente floresce, mesmo em terreno árido.
Ainda bem que a gente floresce e depois cresce (por dentro e por fora) e passa a saber que o importante não é o que os outros fizeram com você – é o que você vai fazer com o que os outros fizeram com você.
Imagem: Klimkin | Pixabay